quarta-feira, 4 de maio de 2011

Street Trash (1987)






Sinopse:

O dono de uma loja de bebidas encontra numa sala dentro de seu bar uma velha caixa de “Viper” que deve ter mais de 60 anos. Este decide fazer uns trocos com o achado e vende a estranha bebida a 1 dólar a garrafa. Os desalojados da área compram a bebida porque é mais barata que o habitual álcool. Mas esta faz com que a pessoa comece a derreter descontroladamente numa miríade de cores. Entretanto um detective começa a investigar para encontrar a causa das mortes. Juntem a isto várias personagens caricatas, um veterano do Vietnam que manda na sucata da rua, prostitutas, o jogo da apanhada com um pénis cortado, etc. A premissa é simples e não há história, desenvolvimento ou final muito elaborados; o ambiente do filme é tipicamente série B; o humor negro marca forte presença; os efeitos especiais são baratos; a banda sonora tipicamente 80s é do tipo brincadeira de amigos após ingestão de substâncias ilícitas.

Street Trash: O Título Já Diz Tudo

Seja uma cervejinha numa sexta-feira depois do trabalho, um trago de um bom uísque ou um vinho vagabundo mesmo, com moderação ou não (não dizem que é preciso ficar “ruim” para dar valor sobre como é estar “bom”?), as bebidas alcoólicas fazem parte da cultura mundial como são as demais formas de arte: existem ébrios em todos os lugares e classes sociais que tomam umas e outras em quantidades diferentes e por motivos diversos. Por isso o leitor mais chegado numa canjibrina pode começar a rir da minha cara quando eu digo que a bebida mata. E quando eu digo mata, é pra valer mesmo, especialmente depois de assistir ao filme STREET TRASH, uma impagável produção datada de 1987, que de uma certa maneira bizarra, poderia ser utilizada pelos alcoólicos anônimos ou pelo departamento de trânsito para alertar os motoristas sobre os “perigos” de tomar um goró na hora errada.

Agora falando sério, durante bastante tempo, – e ainda hoje enquanto escrevo este artigo – fico procurando uma única palavra para descrever STREET TRASH. É difícil enquadrá-lo em uma única definição, e a melhor que eu encontrei está no próprio título: Trash. E põe trash nisso: personagens estereotipados, roteiro absurdo, piadas de gosto duvidoso, gore espalhafatoso e tudo o mais que o admirador do gênero adora – afinal só num filme como este você poderia ver coisas como necrofilia e ainda rir disto.

Fred (Mike Lackey, também um dos responsáveis pelos efeitos especiais) é barbudo e desgrenhado, não cuida da sua higiene pessoal, vive nas ruas e aqui, acreditem, é o mocinho. Não só ele como muitos de seus “colegas de profissão” são chegados numa manguaça e para reabastecer costumam se dirigir para a adega do Ed (M. D’Jango Krunch), onde conseguem sua bebida pelos trocados que ganham de esmola.

Fred vive de pequenos furtos e mora com seu irmão Kevin (Marc Sferrazza), em uma pequena “mansão” instalada dentro do ferro velho gerenciado pelo obeso e mal humorado Frank Schnizer (Pat Ryan), que odeia que os vagabundos fiquem cercando o local.

Esta raiva se acumula, pois não são apenas os dois irmãos que moram lá: há uma gangue inteira de mendigos comandada sob o olhar do paranóico veterano de guerra Bronson (Vic Noto), que carrega sempre uma faca feita de um fêmur humano. Bronson vive como um porco, age como um porco e fala como um porco, no entanto todos respeitam o seu poder e supremacia, pois é um homem muito violento, tanto que é capaz de cortar o bilau de um mendigo e brincar de “batata-quente” com ele apenas por diversão.

As coisas começam a mudar quando Ed, sabe-se lá como, encontra uma caixa muito antiga no fundo de seu depósito. O seu conteúdo é composto por uma série de garrafas de uma bebida com cheiro forte rotulada simplesmente como Viper. Mesmo sem fazer ideia da procedência da birita e desrespeitando todas as leis de vigilância sanitária, coloca-a a venda por um preço módico que atrai a atenção dos mendigos.

Fred entra no estabelecimento e rouba uma garrafa do tal Viper, mas antes que pudesse dar uma bicadinha, é roubado por um outro mendigo mais “necessitado”, por assim dizer. Ele pega a garrafa e toma um gole no banheiro de uma construção abandonada. Acontece que o tal Viper é tão forte que literalmente derrete o mendigo sentado na privada, na primeira das diversas cenas nojentas e bem filmadas do longa.

Paralelamente a polícia investiga o assassinato de um nerd mané que cruzou o caminho do maldoso Bronson, e o tira durão, Bill (Bill Chepil), é o responsável pelas investigações. Invariavelmente Bill passará a investigar também o caso dos mendigos que estão derretendo sem explicação alguma e os caminhos o levarão a um potencial confronto com Bronson.

No meio tempo, muitos outros eventos concorrentes acontecem, como o envolvimento de Kevin com a funcionária do ferro velho Wendy (Jane Arakawa), o hilário roubo de Burt (Clarenze Jarmon), um amigo de Fred, a um supermercado, o estupro de uma grã-fina bêbada por um bando de mendigos e o envolvimento sexual (off-screen, ainda bem) entre Schnizer e uma cadáver – tudo isso enquanto Fred busca combater o que está matando seus colegas.

Sem querer soar maior do que realmente é, STREET TRASH é diferente das porcarias habituais lançadas por aí, porque o diretor J. Michael Muro demonstra uma habilidade profissional que não é esperada neste tipo de produção – não coincidente, várias cenas do filme lembram o clássico do exploitation I DRINK YOUR BLOOD declarada principal inspiração do diretor.

Os enquadramentos, a câmera veloz, algumas destas tomadas inclusive foram claramente influenciadas por Sam Raimi em EVIL DEAD. E para coroar, existem toneladas de violência e pelo exagero causa um misto de enojamento e comicidade, porque quando o gore aparece não é aquela onda vermelha de sangue, mas também roxa, verde, azul, enfim, um arco-iris inteiro de cores intensas e nojentas.

No entanto se alguém aí pensa que este tipo de tranqueira não dá nenhuma contribuição para o cinema (como se divertir não fosse o suficiente), pois saibam que um tal de Bryan Singer trabalhou na produção de STREET TRASH na instalação e ajuste dos equipamentos do set, um belo início de carreira por sinal, hehehe… Interessante também que por mais aclamado que STREET TRASH fosse dentre as produções B, J. Michael Muro não conseguiu se projetar como diretor, ficando este como seu único trabalho neste cargo. A culpa, segundo Muro, foi da distribuidora nos cinemas que faliu pouco depois de lançar o filme e seu nome acabou caindo na obscuridade.

Entretanto, por ironia do destino, os caminhos de Singer e Muro se cruzariam novamente no futuro, só que desta vez Singer era diretor e Muro um mero operador de câmera na produção do filme X-MEN 2 de 2003. Muro é um profissional altamente requisitado neste ofício e também foi operador de câmera de muitos outros blockbusters, entre eles A HORA DO RUSH 2, VELOZES E FURIOSOS e TITANIC.

Voltando ao filme, o trabalho da equipe de efeitos especiais consegue superar a pouca verba e entrega cenas memoráveis como a do gordinho que toma um gole do Viper e infla até explodir… e, claro, a já citada cena do derretimento no começo do filme eternamente lembrada pelos fãs, inclusive constante na capa do DVD importado.

De uma maneira geral as atuações são exageradas propositadamente chegando as raias do absurdo estereótipo. A força do elenco não está no personagem principal – que infelizmente nem aparece tanto quanto deveria – mas em Bill Chepil e especialmente Vic Noto, que interpretam o policial durão Bill e o chefe dos mendigos Bronson respectivamente. Bill dá um banho de canastrice que faria Dirty Harry mijar nas calças (quem já viu o filme e lembra da cena da luta no banheiro sabe do que estou falando) e Vic é um ator talentoso que personifica toda a maldade de Bronson com sua paranóia, o que é estranhamente convincente.

Dentre todos, a maioria dos atores começaram e fizeram apenas este filme, o único que conseguiu uma carreira melhor foi o ator Tony Darrow que fez o personagem magnata Nick Duran. Sua participação é pequena, quase uma ponta, entretanto futuramente vislumbraria horizontes melhores entrando no seriado FAMÍLIA SOPRANO.

O roteiro também, como podem perceber, abusa da comédia e dos risos propositais ou não para entreter o público. O que realmente incomoda no filme são as sub-tramas, numerosas, com muitos personagens secundários e que dificilmente levam a algum lugar no contexto geral – talvez pelo longa ter se baseado a partir de um curta metragem anterior.

A idéia do goró tóxico poderia ser claramente mais bem desenvolvida e fazer mais vitimas, porque em certo ponto do filme ela é totalmente abandonada e apenas retomada no climax final. Como curiosidade o roteirista e produtor Roy Frumkes iniciou no terror como um extra não creditado em DESPERTAR DOS MORTOS onde vocês podem vê-lo rapidamente como o primeiro zumbi atingido por uma torta pelos motoqueiros invadindo o shopping. Em STREET TRASH Frumkes faz uma participação especial como o homem de terno atingido no rosto por um “pedaço” de um mendigo derretendo.

Apesar dos problemas e limitações, STREET TRASH é uma película altamente recomendada e necessária para qualquer um que goste de bagaceiras potentes e não está nem aí para “detalhes técnicos” como um roteiro coerente ou valores morais. O filme é tão cultuado que nos Estados Unidos tem uma versão em DVD duplo da produção que conta de ponta a ponta como foi produzida – uma aquisição que pode seguramente figurar na coleção do bom amante de podreiras.

Muito se falou sobre uma continuação, mas foi recentemente, passados mais de 20 anos depois do lançamento é que esta possibilidade começou a ganhar forma. A verdade é que tudo começou durante as filmagens de DRAGÃO VERMELHO (em 2002) em que J. Michael Muro trabalhava como operador de câmera. Um dia, Roy Frumkes foi fazer uma visita ao set de filmagem e se apresentou para o diretor Brett Ratner: “Ele disse, ’Oh meu Deus, você produziu STREET TRASH! Eu amo este filme, é um dos meus filmes favoritos!’”, conta Frumkes. O reconhecimento fez com que Muro e Ratner cogitassem um segundo filme, especialmente depois da receptividade do DVD no Japão e principalmente na França, onde uma distribuidora estaria acertando a produção para um futuro lançamento.

Um site foi criado na época (www.streettrash2.com) todavia atualmente se encontra fora do ar. Conflitos de agenda de Muro anos atrás esfriaram o rastro de notícias, mas a dupla manda avisar que o filme sai um dia desses: O roteiro já estaria escrito e muitos membros do elenco original já teriam sido contatados… Aguardemos ansiosos. Nesse interim peço uma licencinha ao leitor porque depois de falar tanto sobre bebida este artigo me deu uma seca na garganta… hahaha…

(Agradecimentos Site Boca do Inferno)

Trailer



Download do Filme Aqui

Tamanho:329 MB
Formato:Dvdrip
Idioma:Inglês
Legenda:sim

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